Os antigos filósofos gregos não faziam discernimento entre a luz e a visão. Eles não viam como duas coisas separadas a física da luz e a nossa sensação, ou a interpretação que nosso cérebro acaba tendo dessa física (visão). Observando os olhos de cães, pessoas etc..., à noite, que estivessem próximas ao fogo, os gregos observaram que dos olhos dos seres vivos saia luz. Como sabiam que a luz provém de uma fonte luminosa, e a única fonte conhecida era o fogo, concluíram que "os seres vivos têm uma ténue chama dentro dos olhos". Para eles a visão era explicada com uma teoria, segundo a qual a visão estava intimamente ligada ao tacto. Acreditavam que de dentro dos olhos projectavam-se raios de luminosos que tacteavam os objectos e retornavam aos olhos trazendo consigo informações que, ao serem interpretadas pelo cérebro, acabavam gerando a sensação visual. Acreditavam ainda que cachorros viam mais à noite do que os homens, pois a chama de seus olhos era mais intensa que a dos humanos. Argumentavam que os homens não têm boa visão nocturna porque, sendo a chama de seus olhos muito ténue, a luz em seu caminho de ida e volta acaba por se perder, ao passo que, durante o dia, a luz projectada dos olhos somava-se à do ambiente podendo assim cumprir seu caminho de ida e volta.
Com o passar do tempo e estudando a fisiologia dos olhos foi possível concluir que a ideia do "fogo dentro dos olhos" era mesmo absurda. Foi então que Aristóteles experimentou opinar. Ele pregava que a luz, ao bater nos objectos, retirava deles uma microscópica camada superficial de átomos que, ao serem projectados, acabavam atingindo nossos olhos permitindo assim que víssemos o mesmo. Note-se que ainda não existe discernimento entre luz e visão. Nas teorias propostas a luz e os objectos ainda interagem. A teoria de Aristóteles sobre a luz explicava ainda a sensação de diferenciação de tamanho de um mesmo objecto à medida que nos aproximamos ou nos afastamos dele. Para ele, quando estamos perto de um objecto o ‘enxergamos maior’, pois mais átomos atingem nossos olhos do que quando estamos afastados. Sua teoria, no entanto, acaba caindo por terra por não explicar problemas como o suposto desgaste que os objectos sofreriam ao serem iluminados, bem como as imagens embaralhadas que deveríamos formar devido às colisões de átomos de dois objectos, etc. Sobre o segundo problema, Aristóteles até tentou se defender alegando que, o que ocorria fora do corpo, era exactamente o que sua hipótese sugeria e que tais imagens irreais não eram percebidas pelas pessoas pois, quando a luz entrava por nossos olhos, a "alma humana" a recebia e só repassava ao cérebro as imagens corretas. Aristóteles transferiu assim um furo de sua teoria para um problema "parafísico". Hoje parece piada, mas é história da ciência!
E o mais incrível de toda essa história é observar como fenómenos hoje desvendados eram, mesmo que de forma deslocada, introduzidos no estudo da óptica. A ideia dos gregos de soma de luz e o que hoje aceitamos como interferência; a ideia de Aristóteles de luz arrancando átomos e o efeito fotoelétrico. Afinal, às vezes dentro alguns erros podem surgir indícios de futuras verdades e de algumas verdades, com o passar do tempo, podem surgir grandes erros.
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